FABRIZIO MICCOLI «Só admito deixar Itália para voltar ao Benfica» Há quase dois anos que o pequeno bombardeiro deixou a Luz, mas a força dos laços criados resiste à passagem do tempo. Ao ponto de já ter recusado jogar no FC Porto. Diz-se feliz no Palermo mas confessa que tem saudades do Benfica e que não conseguiria dizer não ao regresso. Avançado esteve em Lisboa na companhia de A BOLA
Entrevista de GONÇALO GUIMARÃES
QUAL a razão da sua visita a Lisboa, aproveitando a pausa nos campeonatos, devido aos jogos das selecções?— Vim tratar de assuntos pessoais e rever alguns amigos.
— Vai aproveitar a visita a Lisboa para estar com alguns dos seus ex-companheiros no Benfica?
— Sim, claro.— Com quem mantém mais contacto?
— Com Nuno Gomes. Ficámos muito amigos e falamos por telefone. Vou estar com ele.— Como lhe está a correr a época, no Palermo?
— Está a correr bem, fiz 10 golos até ao momento [n. d. r. é o melhor marcador da equipa, a par de Cavani], mas ainda faltam nove jogos e posso melhorar essa marca. Em termos colectivos estamos em oitavo lugar, pelo que o balanço é bom. Podia ser melhor, mas é bom.
— O Benfica venceu a Taça da Liga, frente ao Sporting, no sábado passado. Viu o jogo?
— Não, não vi, mas sei que ganharam nos penalties. Vou dar os parabéns ao Nuno Gomes [risos].
«PALERMO NÃO ME DEIXOU SAIR NO VERÃO»
— Na pré-época surgiu a possibilidade de regressar ao Benfica, pela mão de Rui Costa. O que falhou?
— Sim, surgiu essa possibilidade. Eu, o Rui [Costa] e o Francesco [Caliandro, o seu empresário] falámos sobre isso. É verdade que eu também tinha a questão familiar, mas depois isso nem se colocou porque o Palermo decidiu não me vender. O presidente [Maurizio Zamparini] ligou-me e disse que acreditava muito em mim, que não me deixava sair, e acabou por dizer não a Rui Costa.
— Mas ficou tentado?
- Sim, fiquei muito tentado, não vou esconder [risos]...
— E no caso de o Palermo aceitar a sua saída, como seria?
— Teria de falar com a minha mulher e tomar uma decisão.
— Ter dois filhos, uma em idade escolar [Suami] e outro com apenas alguns meses [Diego], poderia dificultar nova saída de Itália...
— Penso que não seria problema. A minha mulher e os meus filhos ficariam em Lecce e eu em Lisboa. Apenas teria de fazer mais viagens de avião para estar com eles sempre que possível. De resto, não seria problema.
— Colocou essa possibilidade no Verão passado?
— Sim, coloquei.
«CONFESSO QUE TENHO SAUDADES DO BENFICA»
— E no final da época, continua a ser um cenário possível, se o Benfica estiver novamente interessado e o Palermo já aceitar vender?
— Não sei... [risos] Tenho mais um ano de contrato com o Palermo e acho que nas próximas semanas vou renovar por três temporadas. Devo dizer que estou muito feliz no Palermo, sou muito bem tratado.
— Está feliz no Palermo mas seria difícil dizer não ao Benfica, é isso?— Sim, admito que seria muito difícil dizer não ao Benfica [risos]...
— Tem saudades do Benfica?— Sim, tenho saudades, é normal. Foram tempos muito bons que recordo sempre com muito carinho.
«ACOMPANHO A VIDA DO CLUBE PELA INTERNET»
— Vê os jogos na televisão?
— Não, isso é complicado porque as partidas do campeonato português não passam aqui. Só tenho acesso aos jogos da Champions. Da Taça UEFA vi apenas resumos dos golos.
— Então como acompanha os resultados?—Acompanho tudo o que se passa no Benfica pela internet.
— Ainda tem contacto com alguns adeptos do Benfica?
- Muito pouco. Apenas dois ou três que ficaram amigos
.— E ainda lhe pedem para voltar?— Sempre! [risos]
— E admite voltar um dia, se existir interesse, ou já não sai de Itália?
— Claro que admito voltar. Se o Benfica tiver interesse e o Palermo quiser negociar, é possível. Parte do meu coração ficou aqui, foram dois anos maravilhosos, por isso tenho vontade de regressar. Estarei sempre disponível, mas não depende só de mim.
— Tem consciência de que seria uma das melhores prendas que os benfiquistas poderiam ter?
— [risos] Não imagina como isso me deixa feliz. Porque acha que digo que só saio de Itália para jogar no Benfica?
«O CORAÇÃO DIZ-ME QUE POSSO VOLTAR»
— Sempre disse que o seu sonho era terminar a carreira no Lecce. Ainda pensa assim ou prefere acabar no Benfica?— [risos] São situações di- ferentes. O Benfica é um grande clube, o Lecce é o clube da minha cidade. Ainda é cedo para pensar em terminar lá a carreira, só daqui a três ou quatro anos.
— Sente que o Benfica é um capítulo encerrado, no livro da sua vida, ou ainda há algo por escrever?
— Quem sabe outro capítulo [risos].— O seu coração diz-lhe que pode voltar ao Benfica um dia?— O coração diz-me que sim, mas o resto diz-me que é difícil.
«AINDA É POSSÍVEL CHEGAR AO TÍTULO»
— O Benfica está a cinco pontos do FC Porto, a oito jogos do final da Liga. Acredita no título?
— Claro que sim. Os adeptos têm de acreditar até final porque cinco pontos não é muito. Na próxima jornada, por exemplo, o FC Porto vai a Guimarães, uma deslocação muito difícil. Há que acreditar, mas isso é daquelas coisas que nem é preciso dizer aos adeptos do Benfica, pois estão sempre com a equipa.
«Pinto da Costa ligou mas recusei»
Desde que Fabrizio Miccoli deixou a Luz, no final da temporada 2006/07, o seu nome tem sido associado ao Benfica e... ao FC Porto. Efectivamente, se é verdade que o Benfica já tentou o regresso do atacante italiano, no último Verão, não é menos factual que os dragões ensaiaram, na pré-época de 2007/08, uma jogada idêntica à protagonizada com Rodriguez no último defeso. Desta feita, sem sucesso. «Sim, é verdade. Foi no final da segunda época no Benfica, quando o meu futuro estava por definir. Acho que eu estava em Turim. Pinto da Costa ligou para saber da possibilidade de jogar no FC Porto, mas recusei. Sempre disse que fora de Itália só jogo no Benfica», vinca o avançado italiano, garantindo que essa decisão de nunca trair o Benfica não está à venda: « Não seria uma questão de dinheiro porque felizmente estou bem nesse aspecto, não seria por aí que conseguiriam convencer-me.»
«Bom trabalho de Rui Costa»
Foram companheiros de equipa com Fernando Santos, em 2006/07. Na época seguinte Miccoli regressou a Itália, para vestir as cores do Palermo, e Rui Costa cumpriu a sua última temporada como jogador. Hoje é director desportivo do Benfica, em época de estreia. «Só o conheço como jogador [risos], como dirigente não tanto, mas tem perfil e tem feito um trabalho positivo. A equipa é forte, tem excelentes jogadores como Aimar, Reyes, Cardozo, Di María ou Nuno Gomes, entre muitos outros. E o treinador também é conceituado. Depois, claro está, tudo depende dos resultados», diz Miccoli, que não tem falado com o maestro. «Falámos por telefone na pré-época. Desde então não nos temos comunicado. Mas sempre tivemos uma boa relação», sublinha.Voltou a pisar relvado da LuzMiccoli aproveitou a passagem por Lisboa para se deslocar ao Estádio da Luz, ontem de manhã. E fez questão de voltar a pisar o relvado onde viveu parte das bonitas memórias que guarda das duas épocas pelas águias.Lille, U. Leiria e LiverpoolEsteve em 56 jogos oficiais do Benfica, em todas as provas, e fez 19 golos. Tem três preferidos: «Os que marquei ao Lille, de cabeça, ao Liverpool, num pontapé de moinho, e ao U. Leiria, um chapéu ao guarda-redes.» Quanto ao jogo que mais o marcou, diz que «foi a vitória por 2-0 em Liverpool».Selecção difícilApesar da boa época que está a realizar, com dez golos na Serie A, Miccoli não pensa no regresso à Selecção. «Lippi já tem o seu grupo, é difícil, mas também não me preocupo com isso», diz.Companhia do empresárioO atacante italiano esteve dois dias em Lisboa, no Hotel Marriott, acompanhado pelo empresário e amigo Francesco Caliandro. A má notícia foi o falecimento, ontem, de Maria da Graça, mãe de Ivone Caranguejeiro, secretária da SAD. «É uma notícia muito triste, pois a Ivone é uma amiga», expressou.